Amor aprendiz


    Esboça um futuro simples. Férias com sol, um filho, um lar. Reinvento a cena, traço mil rotas, deslumbro destinos, redescubro serás e almejo fôlego pra tanto desejar.  
Ele ri da minha ansiedade, das minhas antecipações. Faz cara de bobo me achando boba, arrumando meu cabelo atrás da orelha. Decerto imaginando onde estava com a cabeça para inventar de amar alguém tão cheia de idéias e sede de viver. Por natureza ou por implicância, gosta de me contrariar. Se encabeço dietas, me aparece com chocolate. Se concentro em uma leitura, distribui beijos intermináveis até vencer do livro. Quando cortejo o silêncio, dá de cantar músicas ao pé do ouvido alterando as letras. Desobediente. Meu amor é desobediente. Ele diz que é só amor. Transforma meus nãos em possibilidades. Minhas paranóias em reflexão. Minha cena de ciúme em censura. Coragem. Se veste de coragem nos dias das minhas tempestades. Quando quero estar sozinha, insiste em ser companhia. Quando quero multidão, inventa um cinema a dois com pipoca e cobertor. Não me deixa acordar junto, sai de mansinho e deixa o cheiro de seu perfume no meu rosto. Meu amor é desobediente. Desdobra minha paciência com aquele programa de tv que julgo machista mas assiste ao meu lado minhas séries mulherzinha sem pestanejar. Convoco audiências, ele aparta brigas. Me chama de menina e me parabeniza a cada oito de março. Me incentiva a arriscar vôos mais altos e - ainda que seja mais novo - enxuga minhas lágrimas de estafa, dizendo que vida de gente grande é mesmo assim, uma selva. Não é sempre bonzinho, às vezes é meu teste de paciência e tolerância. Minha porta que bate, meu telefone que não toca, minha vontade de sumir. Mas não...é o meu amor. Meu amor desobediente. Que fica quando mando ir embora, que não foge quando o tempo fecha. Que me cala a boca com beijo de cinema, que ouve atento quando descarrego meus discursos. Meu amor é desobediente e sabe se verter. Diz que pra cada versão da minha teimosia, tem uma dose nova de sentimento. Pra cada anúncio de cansaço, um motivo a mais pra cultivar e cuidar do que é raro de viver. Não sei de onde tira essas coisas, desconfio que rouba meus livros. Aqueles que falo pra não mexer.  Mas não, desobediente que é, mexe com meu mundo e o coração. Minha lição de companheirismo a cada ensaio de insegurança. Minha prova de compreensão a cada personagem de paixão antiga que resgato e publico. Meu curso prático de sentir, minha provocação. Minha mudança de planos, meu caminhar junto. O castigo pra cada duvidar do amor. A revanche de cada malcriação que já fiz.

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